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O Uso do Divã em uma análise

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Ao adentrarmos em um espaço, podemos perceber o que será feito ali através da maneira como aquele ambiente está organizado. Quais móveis estão disponíveis, a ausência deles, ou para que servem, se há ruídos ou não, se há delimitações ou não, tudo isso pode nos dizer muito sobre o que se faz naquele lugar.

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Com um consultório de Psicanálise também é assim. A organização do espaço onde ocorre uma análise diz qual o tipo de relação que será estabelecida ali. É um ambiente que possui uma disposição diferente do local de uma conversa comum. Essa diferença é marcada pelo uso do divã, que se destaca entre a mobília do consultório, não apenas por ser uma peça única no local, e sim porque além da possibilidade de se sentar nele, pode-se também deitar.

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O divã é o lugar na análise, onde o analisando se deita para dizer tudo que lhe vem a mente. O que se fala no divã também é diferente do que se fala em outro lugar. No divã de uma analista toda fala é bem vinda e toda palavra é bem dita, pois como dizia Freud, as palavras não somente nomeiam as coisas mas também as transformam.  Somos o efeito de nossas palavras. Somos o efeito do que fazemos com as palavras que ouvimos.

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Em uma análise o que se privilegia são as palavras. O divã é utilizado como um dispositivo que está ali para facilitar a fala do analisando e a escuta do analista. É por isso que sua disposição no ambiente de análise é sempre a frente da poltrona do analista, de maneira que um não tenha contato visual com outro e a fala possa ocupar o lugar de principal meio de comunicação entre os dois. 

 

Essa evitação do contato visual, faz com que o analista destine total atenção  e foco no que lhe é dito. Por outro lado, permite ao analisando escutar com maior facilidade as suas próprias palavras.  Para que isso aconteça, é necessário, antes de qualquer coisa, o estabelecimento de um vínculo de confiança do paciente para com o analista, como condutor do processo de análise. Esse vínculo é chamado, dentro de uma linguagem técnica, de transferência.

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Somente quando há indícios de uma entrega do paciente ao processo de análise, quando ele se pergunta sobre o que ele tem a ver com as repetições que lhe acontecem, é que o analista lhe faz o convite para que passe a deitar no divã enquanto fala.

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 Essa passagem é bastante simbólica e marca a entrada do paciente em análise. Sem essa passagem ao divã não tem análise. A passagem ao divã significa que o analista aceitou aquele paciente para análise e que o paciente aceitou se entregar ao processo.

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A passagem ao divã é o início de um processo de interpretação e construção. O efeito disso na vida, é que o analisando possa se reinventar. Inventar uma nova versão de si, ser a sua melhor versão. Uma versão singular, com um estilo próprio! Estilo único, e com isso passe a gozar da vida

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